v. 15 n. 2 (2024) Crise Ecológica e Sul Global: Diálogos Ecopolíticos
A crise ecológica é uma questão política transversal e de primeira ordem, que parece subjazer a problemas que vão desde injustiças intra e intergeracionais, colonialismo, imperialismo, capitalismo e sociedade de consumo até à discriminação racial, de gênero e de classe, bem como à exploração e destruição da própria natureza, da Terra, e das comunidades de vida que esta suporta. Neste sentido, toda a política se transformou numa Ecopolítica, de tal modo que se mostra crucial repensar o sentido das relações atuais entre ser humano, mundo e Terra, profundamente marcadas pelos processos de alienação, destruição e excesso cujo índice é a crise ecológica.
Se concordarmos com a ideia segundo a qual a crise ecológica é um indicador do fracasso ou, pelo menos, das severas limitações das estruturas epistêmicas, ético-políticas e mesmo ontológicas da ordem dominante centrada no Norte Global, então talvez não seja descabido considerar que a melhor prática ecopolítica deve começar justamente por um processo de descentramento crítico, contra-hegemônico, relativamente às estruturas hegemônicas, sejam do ponto de vista político, econômico, cultural, ambiental, geográfico ou outro.
Perspectivas ecopolíticas descentralizadas e contra-hegemônicas aparecem, cada vez mais, como modos alternativos e/ou complementares de análise, argumentação e crítica, particularmente as baseadas nas diferentes experiências do Sul Global, a partir dos estudos e perspectivas asiáticas, africanas e latino-americanas, bem como em experiências minoritárias no interior das comunidades do Norte Global – ambientalistas, feministas, antirracistas, de classe, de gênero, entre outras.
Mais do que isso, apresentam-se como modos e formas de vida previamente invisibilizados que exigem ser vistos, escutados e considerados no quadro da pluralidade de perspectivas de uma comunidade mundializada que procura enfrentar a ameaça de colapso ecológico. Estudos como os de Malcom Ferdinand, Lélia Gonzalez, Silvia Rivera Cusicanqui, Walter Mignolo, Maria Lugones, Aníbal Quijano, Sueli Carneiro, Frantz Fanon, Grada Kilomba, Gayatri Spivak, Achille Mbembe, Vandana Shiva, Eduardo Gudynas, Edgardo Lander, Héctor Alimonda, Ailton Krenak e Antônio Bispo dos Santos, constituem exemplos desses esforços do Sul Global para pensar ecopoliticamente.
O Dossiê visa a publicação de trabalhos que tenham como núcleo propostas ou projetos centrados ou em diálogo com autoras e autores do Sul Global, ou que dialoguem com temas associados ao Sul Global e possuam contributos significativos para uma abordagem ecopolítica crítica dos eixos constitutivos da crise ecológica: raça, gênero, classe e natureza, e as relações de dominação e opressão que eles manifestam, que neles persistem, e de cujas ramificações eles se retroalimentam.
Editores/as Convidados/as:
Prof. Dr. Nuno Pereira Castanheira, Programa de Pós-Graduação em Filosofia / Universidade Federal de Pelotas
Prof.ª Dr.ª Lavínia Leal Pereira, Instituto de Ciências Sociais / Universidade de Lisboa
Doutoranda Bruna Leite, Programa de Pós-Graduação em Filosofia / Universidade Federal de Pelotas
Doutorando Arlindo Martins Júnior, Programa de Pós-Graduação em Filosofia / Universidade Federal de Pelotas
Data-limite para submissões: 30 de setembro de 2024
Saiba mais sobre v. 15 n. 2 (2024) Crise Ecológica e Sul Global: Diálogos Ecopolíticos