Para ler as ruínas do Antropoceno mineiro: catástrofe-crime e trauma cultural em Mariana
DOI:
https://doi.org/10.36592/opiniaofilosofica.v11.996Palavras-chave:
Antropoceno. Catástrofe. Trauma Cultural. Mariana. Ruínas.Resumo
O artigo busca fornecer algumas indicações sobre como situar o Brasil no Antropoceno. Pergunta-se: como ler as ruínas do Antropoceno brasileiro a partir de desastres recentes? O objetivo geral é aferir a dimensão traumática do Antropoceno Mineiro a partir da catástrofe-crime de Mariana. Os objetivos específicos são, portanto, delinear os contornos do Antropoceno Mineiro, conectando-os com a teoria do trauma cultural de Alexander (2012) e a dinâmica entre valores e sofrimento em Joas (2013). Investigou-se dois documentos – "Estudo e sistematização dos danos morais individuais e coletivos para processo de indenização/reparação dos atingidos e atingidas pela barragem de rejeitos da Samarco Mineração S.A. (Vale e BHP Billiton) em Mariana-MG" e o livro-reportagem “Vozes e silenciamentos em Mariana: crime ou desastre ambiental?”, que foram lidos com as lentes da teoria do trauma cultural, das interpretações do Antropoceno e suas vozes no interior das ciências humanas e de contribuições, especialmente decoloniais, que desconstroem entendimentos hegemônicos sobre a relação sociedade-natureza na modernidade. Propõe-se a indissociabilidade entre Antropoceno e as catástrofes; destaca-se a relevância do trauma cultural como um elemento importante na compreensão dos impactos catastróficos; habilita-se uma "leitura de ruínas" para mensurar impactos em tragédias. A importância desta pesquisa reside em explorar esta camada pouco aferida no dimensionamento das catástrofes tecnológicas contemporâneas. A partir dos documentos, conclui-se que existe um processo ativo em curso para estabelecer a catástrofe-crime de Mariana como um trauma cultural – sobretudo no que diz respeito ao descentramento moral, expansão de sensibilidade e na solidificação do evento na memória pública. Além disso, a análise dos documentos demonstra ser viável a leitura das ruínas do Antropoceno brasileiro a partir da centralidade do trauma cultural.
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